
Mediante o surto de Covid-19 tem surgido uma acrescida procura das consultas de psicoterapia direcionada a problemas relacionados com a capacidade de se estar só.
Trata-se de um dos eixos centrais da vida adulta, a capacidade de estar em quietude, de descansar verdadeiramente, conseguir naturalmente paz, serenidade e até um certo estado contemplativo. De forma natural, sem recurso a técnicas/métodos exteriores como meditação ou música. É também imprescindível para se conseguir viver relações afetivas estáveis, não conflituais.
A não integração desta capacidade no self nuclear resulta amiúde em:
Ímpeto contínuo em estar com pessoas, ou imerso nas redes sociais, em contacto com outros, a aguardar contacto ou a sondar sistematicamente perfis alheios.
A tendência "compulsiva" para estar continuamente a planear e fazer coisas. A tónica é a dificuldade em parar, sem se entrar num estado de impaciência, irritação ou angústia.
Viver a reagir. Há sempre algo para resolver, algo que está por fazer, algum compromisso por cumprir ou agendar, alguém que precisa de nós. Vive-se para o "alívio", mais que para o prazer. Parece por vezes que nunca nada é suficiente, que não se pode ter uma pausa ou descansar. Vive-se a reagir, e não a ser.
Percepção e preocupação significativa com a desorganização exterior - ex. a casa que está sempre desarrumada e precisa ser arrumada.
A cabeça que não pára. Pensar, pensar, pensar (em círculos), arranjar soluções - tentar controlar a situação. Não é possível descansar verdadeiramente.
Evocar continuamente situações, momentos ou conversas com outrém e criar diálogos "no ar".
Exigências, críticas e queixas persistentes com os companheiros, que por mais que se esforcem, nunca conseguem corresponder ou atenuar a insatisfação.
Insatisfação de fundo ao nível das relações afetivas, podendo resultar em infidelidades ou padrão frequente de troca de companheiros. Instabilidade.
Por detrás tende a estar a dificuldade na quietude e mesmo um "vazio" pesado, demasiado doloroso ou inacessível. Há que "fazer" coisas sobre esse vazio. Há que tentar "tapa-lo", ou controla-lo. Porém, essa nunca é a via. Não resulta. O caminho não é "tapar" ou preencher vazios. O caminho começa por poder tolerá-los, poder partilha-los na relação terapêutica e estar (os dois) dentro dele, sem "fazer coisas", sem tentar compreender, sem dar caminhos ou direções, sem minimizar, destrair ou compactuar na negação, muito menos desvalorizar - pois ele é real e conta uma história, sendo também o ponto de partida para que surjam " as luzes" que definem e orientam o caminho, a construção do self de dentro para fora. Mas é preciso tolerá-lo e aguardar (na relação terapêutica, uma vez que sem tal, não se estrutura tal capacidade de acesso a essa experiencia mais profunda), pois são áreas do self que permanecem como que numa caverna escura, sem qualquer particupação afetiva (cumplicidade, compreensão, "abraços") dos demais, o que por si só mantêm o problema bem vivo, restando o tentar controla-lo (pensá-lo, racionaliza-lo), fugir dele ou tentar "tapar/preencher" fazendo coisas - condenando à procura de nós mesmos a partir de fora, nas coisas, nos projetos, nas relações, nas viagens, etc.. Não resulta efetivamente.
São situações em que mesmo na relação terapêutica se tem dificuldade em estar em quietude na presença do terapeuta, tal levanta demasiadas ansiedades, pelo menos num momento inicial.
São por vezes pessoas muito habituadas a tomar conta de si mesmas e prescindir de outros exteriores que pessoa cuidar delas. Procuram por vezes a psicoterapia como forma de apoio no psicoterapeuta para angariarem ferramentas para um "faça você mesmo". Mas tal não funciona e só organiza psicoterapias em que se entende muito, mas nada muda - as "falsas psicoterapias". Apesar da grande experiência de tratarem de si sozinhas, de estarem ou tentarem controlar tudo (ou por vezes tentarem "ser perfeitas") a dificuldade central é mesmo ao nível da entrega. À medida que consegue à posteriori atingir níveis de confiança mais e mais profundos com o terapeuta (níveis independentes da própria vontade ou controlo), consegue também descansar verdadeiramente, ligar-se a si mesmas e retomar certos processos de desenvolvimento da personalidade.
Trata-se de um dos eixos centrais da vida adulta, a capacidade de estar em quietude, de descansar verdadeiramente, conseguir naturalmente paz, serenidade e até um certo estado contemplativo. De forma natural, sem recurso a técnicas/métodos exteriores como meditação ou música. É também imprescindível para se conseguir viver relações afetivas estáveis, não conflituais.
A não integração desta capacidade no self nuclear resulta amiúde em:
Ímpeto contínuo em estar com pessoas, ou imerso nas redes sociais, em contacto com outros, a aguardar contacto ou a sondar sistematicamente perfis alheios.
A tendência "compulsiva" para estar continuamente a planear e fazer coisas. A tónica é a dificuldade em parar, sem se entrar num estado de impaciência, irritação ou angústia.
Viver a reagir. Há sempre algo para resolver, algo que está por fazer, algum compromisso por cumprir ou agendar, alguém que precisa de nós. Vive-se para o "alívio", mais que para o prazer. Parece por vezes que nunca nada é suficiente, que não se pode ter uma pausa ou descansar. Vive-se a reagir, e não a ser.
Percepção e preocupação significativa com a desorganização exterior - ex. a casa que está sempre desarrumada e precisa ser arrumada.
A cabeça que não pára. Pensar, pensar, pensar (em círculos), arranjar soluções - tentar controlar a situação. Não é possível descansar verdadeiramente.
Evocar continuamente situações, momentos ou conversas com outrém e criar diálogos "no ar".
Exigências, críticas e queixas persistentes com os companheiros, que por mais que se esforcem, nunca conseguem corresponder ou atenuar a insatisfação.
Insatisfação de fundo ao nível das relações afetivas, podendo resultar em infidelidades ou padrão frequente de troca de companheiros. Instabilidade.
Por detrás tende a estar a dificuldade na quietude e mesmo um "vazio" pesado, demasiado doloroso ou inacessível. Há que "fazer" coisas sobre esse vazio. Há que tentar "tapa-lo", ou controla-lo. Porém, essa nunca é a via. Não resulta. O caminho não é "tapar" ou preencher vazios. O caminho começa por poder tolerá-los, poder partilha-los na relação terapêutica e estar (os dois) dentro dele, sem "fazer coisas", sem tentar compreender, sem dar caminhos ou direções, sem minimizar, destrair ou compactuar na negação, muito menos desvalorizar - pois ele é real e conta uma história, sendo também o ponto de partida para que surjam " as luzes" que definem e orientam o caminho, a construção do self de dentro para fora. Mas é preciso tolerá-lo e aguardar (na relação terapêutica, uma vez que sem tal, não se estrutura tal capacidade de acesso a essa experiencia mais profunda), pois são áreas do self que permanecem como que numa caverna escura, sem qualquer particupação afetiva (cumplicidade, compreensão, "abraços") dos demais, o que por si só mantêm o problema bem vivo, restando o tentar controla-lo (pensá-lo, racionaliza-lo), fugir dele ou tentar "tapar/preencher" fazendo coisas - condenando à procura de nós mesmos a partir de fora, nas coisas, nos projetos, nas relações, nas viagens, etc.. Não resulta efetivamente.
São situações em que mesmo na relação terapêutica se tem dificuldade em estar em quietude na presença do terapeuta, tal levanta demasiadas ansiedades, pelo menos num momento inicial.
São por vezes pessoas muito habituadas a tomar conta de si mesmas e prescindir de outros exteriores que pessoa cuidar delas. Procuram por vezes a psicoterapia como forma de apoio no psicoterapeuta para angariarem ferramentas para um "faça você mesmo". Mas tal não funciona e só organiza psicoterapias em que se entende muito, mas nada muda - as "falsas psicoterapias". Apesar da grande experiência de tratarem de si sozinhas, de estarem ou tentarem controlar tudo (ou por vezes tentarem "ser perfeitas") a dificuldade central é mesmo ao nível da entrega. À medida que consegue à posteriori atingir níveis de confiança mais e mais profundos com o terapeuta (níveis independentes da própria vontade ou controlo), consegue também descansar verdadeiramente, ligar-se a si mesmas e retomar certos processos de desenvolvimento da personalidade.