No que sonhamos quando estamos acordados?
Sim. O que surge aquando desta pergunta, se feita por nós e dirigida a nós mesmos? … O que surge?
Vamos fazer este exercício, é importante.
Já está? ...
O que surge?...
Surge um… “Não sei…” ? Um “nada”…?
Ou quiçá surja uma fantasia concreta de algo…
E se alterarmos a pergunta para “Onde me vejo daqui por 10 anos?”. O que surge aquando desta pergunta? Vale a pena tomar um tempo e anotar tudo o que surja.
Talvez surja novamente um “não sei”, um “nada”. Ou talvez surja o desejo de ter uma família, ou um cenário de paz, sem muito detalhe ou desacompanhado de outras imagens.
Tudo bem.
Caso não surja nada, reformulamos, mais uma vez. Onde se imagina daqui por 10 anos? Crie o seu futuro! O que surge? Não vale cenários idealizados, generalistas, sem sustento no realisticamente possível (ser rico(a) para sempre, ser como o “Cristiano Ronaldo”…)
Tudo bem caso não volte a surgir nada. Pode também surgir novamente a fantasia de uma família, ou algum tipo de fantasia que denote um cenário de alívio, liberdade ou paz.
Realmente esta pergunta é organizadora da nossa experiência enquanto pessoas, e é fundamental que a nossa vida presente esteja fundamentalmente alinhada com os conteúdos desta fantasia. Porém, existem estados de desconfiguração que interditam que estas "fantasias-GPS" surjam com clareza.
VIVER A REAGIR
Muitas pessoas não estão concretamente a viver, num sentido de estarem ligadas a si mesmas, poderem ser naturalmente espontâneas e conseguirem descansar verdadeiramente sempre que precisem. Viver a vida a partir de si mesmas, de dentro para fora.
Muitas pessoas vivem, porém, num registo psicológico de “reagir”. Toca o despertador, acordar, tomar duche, fazer o pequeno-almoço, levar os miúdos à escola, toda a azáfama do emprego, mais o trânsito, hora de almoço, hora de jantar, cansaço, cama. “Rinse and repeat”; O "há sempre tanta coisa para resolver e fazer, estou farto(a)!". É preoponderantemente um estado psiquico, ou um quadro psicopatológico, que organiza este estilo de vida.
Não há bem um “viver” per se nesta condição, pois o estado psicológico de base para ser ou viver, não está presente. O estado psicológico associado a este registo de "azáfama" é o estado de “reagir”. E muitas vezes o nosso psiquismo só tem três modos, a partir deste estado de desconfiguração, que amiúde exclui espontaneidade, ligação connosco mesmos e com os nossos sentimentos: “Reagir”, “Vazio/Marasmo”, “Procrastinar”. É um estado patológico, de desconfiguração psíquica, presente amiúde nos pacientes que nos procuram em psicoterapia.
Mais concretamente, num funcionamendo de “reagir”, o self só admite dois modos de existir, “reagir” ou “marasmo”. Mesmo as nossas escolhas pessoais acabam rapidamente por ser sentidas como imposições externas às quais apenas estamos a reagir, e são muitas vezes abandonadas ou vividas com grande desconforto e resistência. E depois vem o “marasmo”, o vazio. O “procrastinar” surge como um mecanismo saudável de SOS, que dita ao self que não se quer mais viver a reagir, não se quer mais enveredar por aquele caminho (ou pela forma de viver o caminho). Ainda que, lamentavelmente o outro caminho possível seja o “vazio”. Socialmente há muitos programas de “combate” ao procrastinar, que carecem realmente de um entendimento profundo dos processos desenvolvimentais do psiquismo, da parte primitiva do psiquismo humano, e acabam por errar cada vez que promovem estratégias de “combate” ao procrastinar. Não é por aí, de todo.
Assim, às perguntas no início deste texto, a resposta, a partir destes estados de deconfiguração são sempre, de fantasias de paz e alívio, e de companhia que não irá embora (família), pois há um quadro de vazio e solidão profuda por detrás destes quadros psicológicos, e a fantasia de paz e família jamais trazem alento, antes pelo contrário. A progura de alcançar estes ideais a partir destes estados de deconfiguração, designa-se por "agir".
Na verdade, estes estados psíquicos necessitam que sejam criadas condições de confiança profunda na relação terapêutica com o paciente, de modo que o vazio, o polo verdadeiro do self, possa ser habitável na relação terapêutica - estar só na presença do outro. A partir daqui se começa a conquista do verdadeiro descanso, por entre um mar de ansiedade inicialmente não consciente, e por vezes por via das lágrimas suspensas que nunca encontraram condições na relação com ninguém para poderem acontecer e serem integradas à experiência nuclear de ser pessoa. Daí o estado de desconfiguração do self. No final deste caminho, há a conquista do verdadeiro self, da quietude, do descanso e dos parâmetros claros daquilo que se quer ser e atingir na vida. Tudo surge deste vazio essencial, porém sozinho, o self não tem a capacidade de se desenvolver e organizar a partir do vazio. Irá sempre se defender destas experiências, que está impregnada de ansiedade e vivências de não haver vida. O que se quer na vida é o resultado de um processo psicológico de amadurecimento que deve acontecer nos primeiros anos de vida, processo esse que é replicado na relação terapeutica, agora na adultícia, e que permite finalmente a configuração psiquica da qual emergem naturalemnte os caminhos e sentidos de vida. Eles emergem, não se buscam necessáriamente - construção do self- identidade de dentro para fora.
O AGIR
Outro fenómeno que surge da desconfiguração, ou do vazio. “Não sei o que quero, então vou fazer X,Y,Z”. Andar à procura de nós, fora de nós. E novamente, não vai funcionar. Existe sempre profusa ansiedade por detrás deste agir, porém sozinhos não conseguimos tomar consciência dela, muito menos digeri-la e aceder aos sentimentos penosos que residem por detrás.
A DISPERSÃO
É já das mais preocupantes consequências da desconfiguração do self. O discurso não faz muitas vezes referência a vivências internas e emocionais. Fala-se do não-Self. Do exterior, dos outros, da fantasia. Muda-se de assunto amiúde e a meio do assunto anterior. Perdemo-nos, e já não sabemos de onde começámos. Fala-se de tudo e mais alguma coisa, mas não da experiência do self, ou a partir da experiência do self. Surge bocejar, tédio, vazio, não há vida. Fala-se do outro e dos erros do outro, de tomar conta de tudo e tudos, apagar todos os fogos sozinho(a), etc.. Até ao colapso psiquíco.
FALSO SELF
São estruturas psiquicas de controlo, que se desenvolvem a partir da desconfiguração do psiquismo, e visam quase sempre um prescindir da entrega, de outros exteriores que possam cuidar, para se chegar ao verdadeiro descanço na relação terapeutica, ao verdadeiro retomar o desenvolvimento e â ligação do self consigo mesmo. Muitas vezes as pessoas procuram psicoterapia em falso self, para um apoio no terapeuta a partir deste falso self, para um faça-você-mesmo, para não fazer um processo de verdadeira entrega. São psicoterapias em que se entende muito, mas nada muda.
NA CONFIGURAÇÃO
Assumindo que estamos configurados enquanto pessoas, então podemos passar a outros pontos importantes e organizadores, e não são complexos.
Basta, por exemplo comprar um caderno e começar a delinear nesse caderno, o seguinte, de forma pormenorizada:
1. Como é a pessoa que queremos ao nosso lado? Exatamente que experiências queremos viver com essa pessoa, nessa relação? Quais são as nossas necessidades específicas, de acordo com a nossa pessoa, que precisamos satisfeitas naquela relação?
2. Que experiências queremos viver na vida, concretamente? Uma por uma.
3. Já agora, também é importante delinear qual o contributo para os demais que estas experiências albergam, uma por uma.
4. Em seguida, é fundamental delinear uma estratégia concreta e multi focal sobre como atingir cada um desses marcos.
Tudo isto tem de ser escrito de forma pormenorizada, ocupando várias páginas. Existem mesmo pessoas muito bem sucedidas cujos “cadernos de vida” ultrapassam as 100 páginas, albergando várias categorias de vida, e ilustrações.
Have fun!
Sim. O que surge aquando desta pergunta, se feita por nós e dirigida a nós mesmos? … O que surge?
Vamos fazer este exercício, é importante.
Já está? ...
O que surge?...
Surge um… “Não sei…” ? Um “nada”…?
Ou quiçá surja uma fantasia concreta de algo…
E se alterarmos a pergunta para “Onde me vejo daqui por 10 anos?”. O que surge aquando desta pergunta? Vale a pena tomar um tempo e anotar tudo o que surja.
Talvez surja novamente um “não sei”, um “nada”. Ou talvez surja o desejo de ter uma família, ou um cenário de paz, sem muito detalhe ou desacompanhado de outras imagens.
Tudo bem.
Caso não surja nada, reformulamos, mais uma vez. Onde se imagina daqui por 10 anos? Crie o seu futuro! O que surge? Não vale cenários idealizados, generalistas, sem sustento no realisticamente possível (ser rico(a) para sempre, ser como o “Cristiano Ronaldo”…)
Tudo bem caso não volte a surgir nada. Pode também surgir novamente a fantasia de uma família, ou algum tipo de fantasia que denote um cenário de alívio, liberdade ou paz.
Realmente esta pergunta é organizadora da nossa experiência enquanto pessoas, e é fundamental que a nossa vida presente esteja fundamentalmente alinhada com os conteúdos desta fantasia. Porém, existem estados de desconfiguração que interditam que estas "fantasias-GPS" surjam com clareza.
VIVER A REAGIR
Muitas pessoas não estão concretamente a viver, num sentido de estarem ligadas a si mesmas, poderem ser naturalmente espontâneas e conseguirem descansar verdadeiramente sempre que precisem. Viver a vida a partir de si mesmas, de dentro para fora.
Muitas pessoas vivem, porém, num registo psicológico de “reagir”. Toca o despertador, acordar, tomar duche, fazer o pequeno-almoço, levar os miúdos à escola, toda a azáfama do emprego, mais o trânsito, hora de almoço, hora de jantar, cansaço, cama. “Rinse and repeat”; O "há sempre tanta coisa para resolver e fazer, estou farto(a)!". É preoponderantemente um estado psiquico, ou um quadro psicopatológico, que organiza este estilo de vida.
Não há bem um “viver” per se nesta condição, pois o estado psicológico de base para ser ou viver, não está presente. O estado psicológico associado a este registo de "azáfama" é o estado de “reagir”. E muitas vezes o nosso psiquismo só tem três modos, a partir deste estado de desconfiguração, que amiúde exclui espontaneidade, ligação connosco mesmos e com os nossos sentimentos: “Reagir”, “Vazio/Marasmo”, “Procrastinar”. É um estado patológico, de desconfiguração psíquica, presente amiúde nos pacientes que nos procuram em psicoterapia.
Mais concretamente, num funcionamendo de “reagir”, o self só admite dois modos de existir, “reagir” ou “marasmo”. Mesmo as nossas escolhas pessoais acabam rapidamente por ser sentidas como imposições externas às quais apenas estamos a reagir, e são muitas vezes abandonadas ou vividas com grande desconforto e resistência. E depois vem o “marasmo”, o vazio. O “procrastinar” surge como um mecanismo saudável de SOS, que dita ao self que não se quer mais viver a reagir, não se quer mais enveredar por aquele caminho (ou pela forma de viver o caminho). Ainda que, lamentavelmente o outro caminho possível seja o “vazio”. Socialmente há muitos programas de “combate” ao procrastinar, que carecem realmente de um entendimento profundo dos processos desenvolvimentais do psiquismo, da parte primitiva do psiquismo humano, e acabam por errar cada vez que promovem estratégias de “combate” ao procrastinar. Não é por aí, de todo.
Assim, às perguntas no início deste texto, a resposta, a partir destes estados de deconfiguração são sempre, de fantasias de paz e alívio, e de companhia que não irá embora (família), pois há um quadro de vazio e solidão profuda por detrás destes quadros psicológicos, e a fantasia de paz e família jamais trazem alento, antes pelo contrário. A progura de alcançar estes ideais a partir destes estados de deconfiguração, designa-se por "agir".
Na verdade, estes estados psíquicos necessitam que sejam criadas condições de confiança profunda na relação terapêutica com o paciente, de modo que o vazio, o polo verdadeiro do self, possa ser habitável na relação terapêutica - estar só na presença do outro. A partir daqui se começa a conquista do verdadeiro descanso, por entre um mar de ansiedade inicialmente não consciente, e por vezes por via das lágrimas suspensas que nunca encontraram condições na relação com ninguém para poderem acontecer e serem integradas à experiência nuclear de ser pessoa. Daí o estado de desconfiguração do self. No final deste caminho, há a conquista do verdadeiro self, da quietude, do descanso e dos parâmetros claros daquilo que se quer ser e atingir na vida. Tudo surge deste vazio essencial, porém sozinho, o self não tem a capacidade de se desenvolver e organizar a partir do vazio. Irá sempre se defender destas experiências, que está impregnada de ansiedade e vivências de não haver vida. O que se quer na vida é o resultado de um processo psicológico de amadurecimento que deve acontecer nos primeiros anos de vida, processo esse que é replicado na relação terapeutica, agora na adultícia, e que permite finalmente a configuração psiquica da qual emergem naturalemnte os caminhos e sentidos de vida. Eles emergem, não se buscam necessáriamente - construção do self- identidade de dentro para fora.
O AGIR
Outro fenómeno que surge da desconfiguração, ou do vazio. “Não sei o que quero, então vou fazer X,Y,Z”. Andar à procura de nós, fora de nós. E novamente, não vai funcionar. Existe sempre profusa ansiedade por detrás deste agir, porém sozinhos não conseguimos tomar consciência dela, muito menos digeri-la e aceder aos sentimentos penosos que residem por detrás.
A DISPERSÃO
É já das mais preocupantes consequências da desconfiguração do self. O discurso não faz muitas vezes referência a vivências internas e emocionais. Fala-se do não-Self. Do exterior, dos outros, da fantasia. Muda-se de assunto amiúde e a meio do assunto anterior. Perdemo-nos, e já não sabemos de onde começámos. Fala-se de tudo e mais alguma coisa, mas não da experiência do self, ou a partir da experiência do self. Surge bocejar, tédio, vazio, não há vida. Fala-se do outro e dos erros do outro, de tomar conta de tudo e tudos, apagar todos os fogos sozinho(a), etc.. Até ao colapso psiquíco.
FALSO SELF
São estruturas psiquicas de controlo, que se desenvolvem a partir da desconfiguração do psiquismo, e visam quase sempre um prescindir da entrega, de outros exteriores que possam cuidar, para se chegar ao verdadeiro descanço na relação terapeutica, ao verdadeiro retomar o desenvolvimento e â ligação do self consigo mesmo. Muitas vezes as pessoas procuram psicoterapia em falso self, para um apoio no terapeuta a partir deste falso self, para um faça-você-mesmo, para não fazer um processo de verdadeira entrega. São psicoterapias em que se entende muito, mas nada muda.
NA CONFIGURAÇÃO
Assumindo que estamos configurados enquanto pessoas, então podemos passar a outros pontos importantes e organizadores, e não são complexos.
Basta, por exemplo comprar um caderno e começar a delinear nesse caderno, o seguinte, de forma pormenorizada:
1. Como é a pessoa que queremos ao nosso lado? Exatamente que experiências queremos viver com essa pessoa, nessa relação? Quais são as nossas necessidades específicas, de acordo com a nossa pessoa, que precisamos satisfeitas naquela relação?
2. Que experiências queremos viver na vida, concretamente? Uma por uma.
3. Já agora, também é importante delinear qual o contributo para os demais que estas experiências albergam, uma por uma.
4. Em seguida, é fundamental delinear uma estratégia concreta e multi focal sobre como atingir cada um desses marcos.
Tudo isto tem de ser escrito de forma pormenorizada, ocupando várias páginas. Existem mesmo pessoas muito bem sucedidas cujos “cadernos de vida” ultrapassam as 100 páginas, albergando várias categorias de vida, e ilustrações.
Have fun!