
/ / PT VERSION - SCROLL DOWN FOR THE ENGLISH VERSION / /
Olá, o meu nome é Patrícia e eu tenho 26 anos...*
Eu sei que o que vou perguntar talvez nem vá obter resposta por vossa parte mas eu sinto-me com a autoestima demasiado em baixo e não me sinto bem comigo mesma porque eu não sei se preciso de apoio psicológico, de apenas medicação, ou ate mesmo outra alternativa.
A minha dúvida é esta: eu sempre que gosto de alguém amorosamente, eu deixo de gostar de mim e passo a viver em função daquela pessoa, faço tudo para a agradar e depois sempre que o amor por parte da outra pessoa acaba, eu sofro pois não sei lidar com a perda dela de tal modo que chego a humilhar-me e sentir que culpa é sempre minha por não ter resultado mais uma vez.
Este sentimento leva-me a tal sofrimento que eu tenho dias que choro consecutivamente durante dias seguidos sendo que posso depois andar sem chorar uma semana mas depois esse pesadelo volta, não tenho vontade de fazer nada, refugiu-me, rebaixo-me a essa pessoa mesmo sabendo que o melhor para mim é não dizer nada e me afastar, mesmo sabendo que corro risco de ela me tratar mal e mesmo que ela o faça, eu perdoo pois sinto que a falta que ela me faz é maior que o sofrimento que ela me causou por momentos...
Eu sinto que não estou bem mas não sei bem que tipo de tratamento devo procurar para que seja mais eficaz, porque chego a ter dias que penso que se morresse não fazia falta a ninguém...
Basicamente não tenho amigos porque "abdico" deles quando estou em um relacionamento o que torna as coisas mais complicadas para mim. Eu sinto-me "perdida" sem saber o que fazer ou pensar...
Ajudem-me por favor com uma opinião. Obrigada
-- -- -- -- -- -- --
Olá Patrícia,
Percebo o desespero que passa nas suas palavras. Neste momento parece-me que precisa de um lugar para descansar, poder reorganizar-se e mesmo restaurar algumas partes de si que ao longo do percurso da sua história foram sendo desgastadas e mesmo perdidas ou enfraquecidas... Patrícia, peço que considere, se assim o entender, e para já, que este estado que relata não parece ser o ideal para procurar ou se estar num relacionamento amoroso... A procura de uma ligação amorosa adulta a partir de um lugar de tão grande vulnerabilidade e sofrimento é muito perigosa e tende a desenrolar-se tal qual como descreve,,, infelizmente.
Uma relação amorosa não deve seguir o modelo de dar tudo para agradar a outra pessoa, uma vez que tal posição facilmente funciona contra nós, acabamos por nos desvalorizar a nós mesmos e aos olhos de quem está connosco - que por vezes e a certo ponto poderá fazer como que "testes" (a nível mais inconsciente) no sentido de perceber se quem tem ao lado se trata de alguém admirável, que se afirma, e logo, de valor, digno de ser objeto de amor, ou, por outro lado, alguém que por tanto receio e desespero pela perda, se anula a si mesmo, o que tende a resultar na gradual perda de admiração e respeito por parte do companheiro ou companheira. Este é um cenário muito comum nos tempos correntes, e temos que atender à realidade - uma relação amorosa madura implica duas pessoas "completas", maduras, emocionalmente responsáveis por elas próprias e depois, pela outra pessoa. Sem isto, é de veras impossível a estabilidade e satisfação a dois...
Uma relação amorosa deve assentar na negociação de necessidades, na assertividade e estabelecimento de fronteiras e limites, ou seja, na afirmação pessoal de nós enquanto seres com identidade própria, na capacidade de estarmos só - em oposição à inquietude quando estamos sozinhos ou a exigência sistemática sobre a outra pessoa -, e na tolerância à rejeição, sendo que tanto nós como a outra pessoa têm o direito de escolher não mais estar connosco, ainda que muitas vezes tal não seja o nosso desejo.
Todas estas capacidades formam-se nos primeiros anos de vida, inclusive nos primeiros meses de vida, na verdade. Até que ponto, quando cada um de nós era uma pequena força da natureza - um(a) bebé exigente, irrequieto(a), voraz, destrutivo(a) - os nossos adultos cuidadores mantinham em todos os momentos, ou quase sempre, uma atitude emocionalmente responsável connosco, isto é, uma atitude serena, atenta, envolvida, sintónica e empática, especialmente quando nós mesmos ousávamos ser verdadeiramente bebés? Isto existia fluidamente ou havia momentos em que aquele ou aquela bebé era demasiado difícil? Ou, pelo contrário, que nunca dava problemas - um estado em que o bebé já se dissociou da espontaneidade (porque algo não fluía adequadamente). Bebés não são seres bem comportados, são bebés(!). Uma grande diferença. Quando o(a) bebé deixa de dar sinais de ser bebé (pranto, protesto, birra, oposição, teimosia), temos um problema, geralmente acompanhado por agrado ou alívio no adulto sobre o comportamento "passivo" do(a) bebé: "nunca deu problemas". Pois claro que não... Não podia! O adulto não aguentava, a angústia de tal para o pequeno ser era insuportável e passou então a estar atento (a agradar) o cuidador, em vez de estar centrado(a) em si com confiança total num ambiente que não colapsa por infiltração de ansiedade ou outros problemas com o cuidador e seu temperamento e rotinas - aprendemos esquecer-nos de nós quando nos entregamos ao outro.
Estas coisas não são difíceis de constatar na vida adulta - quão fácil é partilhar todos os nossos problemas e angústias perante os nossos pais, e outros significativos, partilhar a herdeira vulnerabilidade, as lágrimas e a ansiedade ou mesmo a raiva? Ou, por outro lado, não queremos dar preocupações? Este segundo cenário reflete toda a problemática descrita: não confiamos na capacidade continente do adulto cuidador, é demasiado fraco(a), e resulta no problema de ficarmos com dois problemas, a nossa ansiedade, mais a ansiedade do cuidador. Estes casos geralmente apontam para dificuldades na infância precoce com os impulsos do bebé - vulnerabilidade, exigência, protesto, pranto, birras, etc.. Apontam para momentos em que a existência do(a) bebé ter sido percebida como uma ameaça (ao cuidador). Daí a espontaneidade perde-se e a psicopatologia forma-se, amiúde-se, um falso self cuidador - a preocupação em cuidador e estar ao serviço dos demais, de dar, de apoiar a família, porém juntamente com uma tendência à auto negligência (que por vezes é acentuada por algum tipo de conivência/egoísmo no adulto cuidador).
Queixas dos companheiros ou companheiros sobre exigências persistentes de disponibilidade; sentimento de se procurar mais os amigos do que eles nos procuram a nós; medo de perder amizades, inquietude quando se está só ou necessidade frequente de estar em movimento; mesmo que movimento horizontal (movimento sem grande progressão estrutural na vida); percepção do pensamento acelerado e sobre muitos assuntos ao mesmo tempo; compromisso na capacidade de descansar e desamparo. Tudo o mesmo problema.
Felizmente este tipo de problemas é a nossa especialidade. Eles não são difíceis de entender, embora a resolução dos mesmos seja um processo mais prolongado no tempo, devido às dificuldades de entrega a um nível mais profundo, onde residem as angústias e a falta de confiança no adulto que "não aguenta" ou vai criticar e destruir ou virar costas, ou outro qualquer derivativo destrutivo a um vínculo seguro, que suporta todas as tempestades, e mantém o conforto e apoio em todos os momentos.
Estes dois links de seguida descrevem todo este enredo muito bem. O segundo está em inglês, porém, com um tradutor online o problema resolve-se.
Porque nos restringimos quando namoramos alguém
O que se passa comigo que não consigo ser eu mesmo(a)?
Diogo Gonçalves
Psicólogo Clínico, Psicoterapeuta
Marcar uma consulta connoco
*Alguns dados pessoais da mensagem original foram deliberadamente alterados por motivos de proteção de identidade e privacidade.
/ / ENGLISH VERSION / /
Hello, my name is Patrícia, and I am 26 years old...
I know that what I’m about to ask may not even get an answer from you, but I feel my self-esteem is too low, and I don’t feel good about myself because I don’t know if I need psychological support, just medication, or maybe even another alternative.
This is my question: whenever I fall in love with someone, I stop loving myself and start living for that person. I do everything to please them, and then, whenever their love ends, I suffer because I don’t know how to deal with their loss. This suffering reaches the point where I end up humiliating myself and believing it’s always my fault that it didn’t work out once again.
This feeling causes me such anguish that there are days I cry continuously for several days in a row. Then, I might go a week without crying, but that nightmare returns. I lose interest in doing anything. I isolate myself, humble myself to that person, even knowing that the best thing for me is to say nothing and distance myself. Even knowing I risk being mistreated by them, I still forgive them because I feel the void they leave is greater than the pain they caused me, even momentarily.
I feel I’m not well, but I don’t know exactly what kind of treatment I should seek to be more effective. Some days, I even think that if I died, no one would miss me...
Basically, I don’t have friends because I “give up on them” when I’m in a relationship, which makes things even harder for me. I feel “lost,” not knowing what to do or think...
Please help me with an opinion. Thank you.
-- -- -- -- -- --
Hello Patrícia,
I can sense the despair in your words. At this moment, it seems to me that you need a place to rest, to heal, to reorganize yourself, and to restore some parts of yourself that over time have been worn down, lost, or weakened... Patrícia, I kindly ask you to consider, if you feel so inclined, that the state you describe does not appear to be ideal for pursuing or being in a romantic relationship at this time or around this pattern... Searching for a mature romantic connection from a place of such deep vulnerability and pain - that is always there, no matter how much one masks it or it seems to be distant - is very risky and tends to unfold exactly as you describe, unfortunately.
A romantic relationship should not follow the model of giving everything up to please the other person, since such a position can easily work against us. We end up devaluing ourselves, both in our own eyes and in the eyes of the other person, who may, at some point, unconsciously “test” us. This is often an attempt to understand whether the person they’re with is someone admirable, self-assured, and therefore worthy of love, or someone who, out of fear and desperation of losing the relationship, start adopting a faded version of themselves. This often leads to a gradual loss of admiration and respect, sadly. This scenario is common, and we must face the reality: a mature relationship involves two “complete” personalities who are emotionally responsible for themselves and, subsequently, for each other. Without this foundation, stability and fulfillment as a couple are virtually impossible.
A romantic relationship must be based on negotiating needs, assertiveness, and setting boundaries. That is, it must involve affirming ourselves as individuals with our own identity, the ability to be alone—rather than feeling anxious when alone or making constant demands of the other person—and tolerance for rejection. Both we and the other person have the right to decide to no longer be together, even if it’s not what the other one wants.
All these psychological functions are developed in the early years of life, even in the first months. To what extent, when each of us was little and a "primitive force of nature"—a demanding, restless, voracious, and destructive baby—did our caretakers consistently maintained an emotionally responsible attitude toward us? Were they serene, attentive, engaged, attuned, and empathetic, especially when we dared to be truly baby-like? Or were there moments when we were too difficult? Or, on the contrary, we are described as “never causing any trouble,” already having dissociated ourselves from our spontaneity (because the attachment style was not safe enough to allow for that)? Babies are not well-behaved beings; they are babies(!). There’s a significant difference between the two concepts. When a baby stops exhibiting typical signs of distress (crying, protesting, throwing tantrums, showing opposition, being stubborn), there’s a problem. This often accompanies the adult’s relief or satisfaction with the “passive” behaviour from their baby: “they never caused any trouble”. Well... of course not—they couldn’t! The adult couldn’t cope, and the resulting anxiety for that little being was unbearable. So, the baby began focusing on pleasing its caretaker, not being a burden, rather than being naturally spontaneous in an environment where they could thrive without worrying about their caretaker’s anxiety, prolonged absence, rejection or instability. We then learn to forget about ourselves when we truly give ourselves to others. It becomes a learned relational pattern.
These patterns become apparent in adulthood: How easy is it to share all our problems and anxieties with our parents or significant others, to reveal that vulnerable side of ours along with tears and anxiety or even anger towards them? Or, on the other hand, do we avoid burdening them? The latter reflects the entire issue described—it means we don’t trust the adult caretaker’s ability to handle things. They are too fragile, and we end up with two problems—our anxiety and the caretaker’s anxiety. These situations often indicate difficulties during early childhood with the baby’s impulses—vulnerability, demands, protests, crying, tantrums, etc.. They point to moments when the baby’s existence was perceived as a threat (to the caretaker). Hence, spontaneity was compromised, and psychological struggles emerged, accompanied often by a kind of false caregiver self—a tendency to focus on taking care of others, supporting family members, but with a simultaneous tendency toward self-neglect (sometimes exacerbated by some form of complicity or selfishness from the caretaker or adult). Sometimes there is a complain that they are drained easily by others, which comes from a poor integration on their normative selfish impulses (self preservation impulses), the "off switch". Gets worse when narcissistic parenting is involved, the feeling of being selfish keeps giving to others always on "on", leading to exhaustion.
Criticism from partners about persistent demands for availability; feelings that you’re always the one always reaching out to your friends rather than them seeking you; fear of losing friendships; restlessness when you’re alone or a frequent need to stay busy—often horizontal movement (busywork without structural progress in life); racing thoughts covering many different topics coming close to being overwhelmed; struggles to relax and feelings of helplessness. It’s all the same underlying problem.
Fortunately, these types of issues are our specialty. They are not difficult to understand, though resolving them can take time due to the challenges connected to addressing deeper levels where the anxieties and lack of trust in caretaking others (who couldn’t handle things in the past, realistically) reside. Fear of criticism, rejection, or abandonment can disrupt a secure attachment that should provide comfort and support through thick and thin.
These two links below describe these dynamics well.
Why we detach from ourselves when dating someone
What’s happening to me — I can’t be fully myself...
Diogo Gonçalves
Clinical Psychologist, Psychotherapist
Schedule a Consultation
Olá, o meu nome é Patrícia e eu tenho 26 anos...*
Eu sei que o que vou perguntar talvez nem vá obter resposta por vossa parte mas eu sinto-me com a autoestima demasiado em baixo e não me sinto bem comigo mesma porque eu não sei se preciso de apoio psicológico, de apenas medicação, ou ate mesmo outra alternativa.
A minha dúvida é esta: eu sempre que gosto de alguém amorosamente, eu deixo de gostar de mim e passo a viver em função daquela pessoa, faço tudo para a agradar e depois sempre que o amor por parte da outra pessoa acaba, eu sofro pois não sei lidar com a perda dela de tal modo que chego a humilhar-me e sentir que culpa é sempre minha por não ter resultado mais uma vez.
Este sentimento leva-me a tal sofrimento que eu tenho dias que choro consecutivamente durante dias seguidos sendo que posso depois andar sem chorar uma semana mas depois esse pesadelo volta, não tenho vontade de fazer nada, refugiu-me, rebaixo-me a essa pessoa mesmo sabendo que o melhor para mim é não dizer nada e me afastar, mesmo sabendo que corro risco de ela me tratar mal e mesmo que ela o faça, eu perdoo pois sinto que a falta que ela me faz é maior que o sofrimento que ela me causou por momentos...
Eu sinto que não estou bem mas não sei bem que tipo de tratamento devo procurar para que seja mais eficaz, porque chego a ter dias que penso que se morresse não fazia falta a ninguém...
Basicamente não tenho amigos porque "abdico" deles quando estou em um relacionamento o que torna as coisas mais complicadas para mim. Eu sinto-me "perdida" sem saber o que fazer ou pensar...
Ajudem-me por favor com uma opinião. Obrigada
-- -- -- -- -- -- --
Olá Patrícia,
Percebo o desespero que passa nas suas palavras. Neste momento parece-me que precisa de um lugar para descansar, poder reorganizar-se e mesmo restaurar algumas partes de si que ao longo do percurso da sua história foram sendo desgastadas e mesmo perdidas ou enfraquecidas... Patrícia, peço que considere, se assim o entender, e para já, que este estado que relata não parece ser o ideal para procurar ou se estar num relacionamento amoroso... A procura de uma ligação amorosa adulta a partir de um lugar de tão grande vulnerabilidade e sofrimento é muito perigosa e tende a desenrolar-se tal qual como descreve,,, infelizmente.
Uma relação amorosa não deve seguir o modelo de dar tudo para agradar a outra pessoa, uma vez que tal posição facilmente funciona contra nós, acabamos por nos desvalorizar a nós mesmos e aos olhos de quem está connosco - que por vezes e a certo ponto poderá fazer como que "testes" (a nível mais inconsciente) no sentido de perceber se quem tem ao lado se trata de alguém admirável, que se afirma, e logo, de valor, digno de ser objeto de amor, ou, por outro lado, alguém que por tanto receio e desespero pela perda, se anula a si mesmo, o que tende a resultar na gradual perda de admiração e respeito por parte do companheiro ou companheira. Este é um cenário muito comum nos tempos correntes, e temos que atender à realidade - uma relação amorosa madura implica duas pessoas "completas", maduras, emocionalmente responsáveis por elas próprias e depois, pela outra pessoa. Sem isto, é de veras impossível a estabilidade e satisfação a dois...
Uma relação amorosa deve assentar na negociação de necessidades, na assertividade e estabelecimento de fronteiras e limites, ou seja, na afirmação pessoal de nós enquanto seres com identidade própria, na capacidade de estarmos só - em oposição à inquietude quando estamos sozinhos ou a exigência sistemática sobre a outra pessoa -, e na tolerância à rejeição, sendo que tanto nós como a outra pessoa têm o direito de escolher não mais estar connosco, ainda que muitas vezes tal não seja o nosso desejo.
Todas estas capacidades formam-se nos primeiros anos de vida, inclusive nos primeiros meses de vida, na verdade. Até que ponto, quando cada um de nós era uma pequena força da natureza - um(a) bebé exigente, irrequieto(a), voraz, destrutivo(a) - os nossos adultos cuidadores mantinham em todos os momentos, ou quase sempre, uma atitude emocionalmente responsável connosco, isto é, uma atitude serena, atenta, envolvida, sintónica e empática, especialmente quando nós mesmos ousávamos ser verdadeiramente bebés? Isto existia fluidamente ou havia momentos em que aquele ou aquela bebé era demasiado difícil? Ou, pelo contrário, que nunca dava problemas - um estado em que o bebé já se dissociou da espontaneidade (porque algo não fluía adequadamente). Bebés não são seres bem comportados, são bebés(!). Uma grande diferença. Quando o(a) bebé deixa de dar sinais de ser bebé (pranto, protesto, birra, oposição, teimosia), temos um problema, geralmente acompanhado por agrado ou alívio no adulto sobre o comportamento "passivo" do(a) bebé: "nunca deu problemas". Pois claro que não... Não podia! O adulto não aguentava, a angústia de tal para o pequeno ser era insuportável e passou então a estar atento (a agradar) o cuidador, em vez de estar centrado(a) em si com confiança total num ambiente que não colapsa por infiltração de ansiedade ou outros problemas com o cuidador e seu temperamento e rotinas - aprendemos esquecer-nos de nós quando nos entregamos ao outro.
Estas coisas não são difíceis de constatar na vida adulta - quão fácil é partilhar todos os nossos problemas e angústias perante os nossos pais, e outros significativos, partilhar a herdeira vulnerabilidade, as lágrimas e a ansiedade ou mesmo a raiva? Ou, por outro lado, não queremos dar preocupações? Este segundo cenário reflete toda a problemática descrita: não confiamos na capacidade continente do adulto cuidador, é demasiado fraco(a), e resulta no problema de ficarmos com dois problemas, a nossa ansiedade, mais a ansiedade do cuidador. Estes casos geralmente apontam para dificuldades na infância precoce com os impulsos do bebé - vulnerabilidade, exigência, protesto, pranto, birras, etc.. Apontam para momentos em que a existência do(a) bebé ter sido percebida como uma ameaça (ao cuidador). Daí a espontaneidade perde-se e a psicopatologia forma-se, amiúde-se, um falso self cuidador - a preocupação em cuidador e estar ao serviço dos demais, de dar, de apoiar a família, porém juntamente com uma tendência à auto negligência (que por vezes é acentuada por algum tipo de conivência/egoísmo no adulto cuidador).
Queixas dos companheiros ou companheiros sobre exigências persistentes de disponibilidade; sentimento de se procurar mais os amigos do que eles nos procuram a nós; medo de perder amizades, inquietude quando se está só ou necessidade frequente de estar em movimento; mesmo que movimento horizontal (movimento sem grande progressão estrutural na vida); percepção do pensamento acelerado e sobre muitos assuntos ao mesmo tempo; compromisso na capacidade de descansar e desamparo. Tudo o mesmo problema.
Felizmente este tipo de problemas é a nossa especialidade. Eles não são difíceis de entender, embora a resolução dos mesmos seja um processo mais prolongado no tempo, devido às dificuldades de entrega a um nível mais profundo, onde residem as angústias e a falta de confiança no adulto que "não aguenta" ou vai criticar e destruir ou virar costas, ou outro qualquer derivativo destrutivo a um vínculo seguro, que suporta todas as tempestades, e mantém o conforto e apoio em todos os momentos.
Estes dois links de seguida descrevem todo este enredo muito bem. O segundo está em inglês, porém, com um tradutor online o problema resolve-se.
Porque nos restringimos quando namoramos alguém
O que se passa comigo que não consigo ser eu mesmo(a)?
Diogo Gonçalves
Psicólogo Clínico, Psicoterapeuta
Marcar uma consulta connoco
*Alguns dados pessoais da mensagem original foram deliberadamente alterados por motivos de proteção de identidade e privacidade.
/ / ENGLISH VERSION / /
Hello, my name is Patrícia, and I am 26 years old...
I know that what I’m about to ask may not even get an answer from you, but I feel my self-esteem is too low, and I don’t feel good about myself because I don’t know if I need psychological support, just medication, or maybe even another alternative.
This is my question: whenever I fall in love with someone, I stop loving myself and start living for that person. I do everything to please them, and then, whenever their love ends, I suffer because I don’t know how to deal with their loss. This suffering reaches the point where I end up humiliating myself and believing it’s always my fault that it didn’t work out once again.
This feeling causes me such anguish that there are days I cry continuously for several days in a row. Then, I might go a week without crying, but that nightmare returns. I lose interest in doing anything. I isolate myself, humble myself to that person, even knowing that the best thing for me is to say nothing and distance myself. Even knowing I risk being mistreated by them, I still forgive them because I feel the void they leave is greater than the pain they caused me, even momentarily.
I feel I’m not well, but I don’t know exactly what kind of treatment I should seek to be more effective. Some days, I even think that if I died, no one would miss me...
Basically, I don’t have friends because I “give up on them” when I’m in a relationship, which makes things even harder for me. I feel “lost,” not knowing what to do or think...
Please help me with an opinion. Thank you.
-- -- -- -- -- --
Hello Patrícia,
I can sense the despair in your words. At this moment, it seems to me that you need a place to rest, to heal, to reorganize yourself, and to restore some parts of yourself that over time have been worn down, lost, or weakened... Patrícia, I kindly ask you to consider, if you feel so inclined, that the state you describe does not appear to be ideal for pursuing or being in a romantic relationship at this time or around this pattern... Searching for a mature romantic connection from a place of such deep vulnerability and pain - that is always there, no matter how much one masks it or it seems to be distant - is very risky and tends to unfold exactly as you describe, unfortunately.
A romantic relationship should not follow the model of giving everything up to please the other person, since such a position can easily work against us. We end up devaluing ourselves, both in our own eyes and in the eyes of the other person, who may, at some point, unconsciously “test” us. This is often an attempt to understand whether the person they’re with is someone admirable, self-assured, and therefore worthy of love, or someone who, out of fear and desperation of losing the relationship, start adopting a faded version of themselves. This often leads to a gradual loss of admiration and respect, sadly. This scenario is common, and we must face the reality: a mature relationship involves two “complete” personalities who are emotionally responsible for themselves and, subsequently, for each other. Without this foundation, stability and fulfillment as a couple are virtually impossible.
A romantic relationship must be based on negotiating needs, assertiveness, and setting boundaries. That is, it must involve affirming ourselves as individuals with our own identity, the ability to be alone—rather than feeling anxious when alone or making constant demands of the other person—and tolerance for rejection. Both we and the other person have the right to decide to no longer be together, even if it’s not what the other one wants.
All these psychological functions are developed in the early years of life, even in the first months. To what extent, when each of us was little and a "primitive force of nature"—a demanding, restless, voracious, and destructive baby—did our caretakers consistently maintained an emotionally responsible attitude toward us? Were they serene, attentive, engaged, attuned, and empathetic, especially when we dared to be truly baby-like? Or were there moments when we were too difficult? Or, on the contrary, we are described as “never causing any trouble,” already having dissociated ourselves from our spontaneity (because the attachment style was not safe enough to allow for that)? Babies are not well-behaved beings; they are babies(!). There’s a significant difference between the two concepts. When a baby stops exhibiting typical signs of distress (crying, protesting, throwing tantrums, showing opposition, being stubborn), there’s a problem. This often accompanies the adult’s relief or satisfaction with the “passive” behaviour from their baby: “they never caused any trouble”. Well... of course not—they couldn’t! The adult couldn’t cope, and the resulting anxiety for that little being was unbearable. So, the baby began focusing on pleasing its caretaker, not being a burden, rather than being naturally spontaneous in an environment where they could thrive without worrying about their caretaker’s anxiety, prolonged absence, rejection or instability. We then learn to forget about ourselves when we truly give ourselves to others. It becomes a learned relational pattern.
These patterns become apparent in adulthood: How easy is it to share all our problems and anxieties with our parents or significant others, to reveal that vulnerable side of ours along with tears and anxiety or even anger towards them? Or, on the other hand, do we avoid burdening them? The latter reflects the entire issue described—it means we don’t trust the adult caretaker’s ability to handle things. They are too fragile, and we end up with two problems—our anxiety and the caretaker’s anxiety. These situations often indicate difficulties during early childhood with the baby’s impulses—vulnerability, demands, protests, crying, tantrums, etc.. They point to moments when the baby’s existence was perceived as a threat (to the caretaker). Hence, spontaneity was compromised, and psychological struggles emerged, accompanied often by a kind of false caregiver self—a tendency to focus on taking care of others, supporting family members, but with a simultaneous tendency toward self-neglect (sometimes exacerbated by some form of complicity or selfishness from the caretaker or adult). Sometimes there is a complain that they are drained easily by others, which comes from a poor integration on their normative selfish impulses (self preservation impulses), the "off switch". Gets worse when narcissistic parenting is involved, the feeling of being selfish keeps giving to others always on "on", leading to exhaustion.
Criticism from partners about persistent demands for availability; feelings that you’re always the one always reaching out to your friends rather than them seeking you; fear of losing friendships; restlessness when you’re alone or a frequent need to stay busy—often horizontal movement (busywork without structural progress in life); racing thoughts covering many different topics coming close to being overwhelmed; struggles to relax and feelings of helplessness. It’s all the same underlying problem.
Fortunately, these types of issues are our specialty. They are not difficult to understand, though resolving them can take time due to the challenges connected to addressing deeper levels where the anxieties and lack of trust in caretaking others (who couldn’t handle things in the past, realistically) reside. Fear of criticism, rejection, or abandonment can disrupt a secure attachment that should provide comfort and support through thick and thin.
These two links below describe these dynamics well.
Why we detach from ourselves when dating someone
What’s happening to me — I can’t be fully myself...
Diogo Gonçalves
Clinical Psychologist, Psychotherapist
Schedule a Consultation